21.8.07

Diário

22 Setembro 04

Quando ponho os pés na praia, entro noutro mundo, piso um espaço criado há dimensão dos meus desejos. Hoje venho à procura de coisas curiosas, de formas imprevisíveis criadas pelo tempo: coisas com reentrâncias e esburacadas, lisas e rugosas. Agarro em pedras e pedrinhas achatadas de tonalidades fantásticas, contornadas por linhas brancas, depois pego-lhes pelas pontas e lanço-as ao mar com muita força e jeito para as fazer saltitar até desaparecerem por completo. Agarradas aos penhascos, formas orgânicas parecem ter sido trabalhadas por engenhosos trogloditas solitários. Junto à beira-mar observo pequenos troncos inchados, rasgados e retorcidos pela acção deste clima. Mas o que realmente impressiona são estes veios de água doce que nascem destas encostas, escavando na areia em direcção ao mar corredores irregulares, lançando esta água doce de encontro à rebentação salgado do mar.


Estes passeios, tranquilizam-me o espírito. Sem pressa, percorro a praia da Légua até aos seus limites. Estes passeios são um exercício para a minha memória, tudo o que aqui se passa, tudo o que vejo com mais ou menos interesse irá fixar-se no meu cérebro. Depois, o que for importante ficará guardado, para uso posterior, as sobras serão recicladas para sempre.

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